Eduarda Macário
Reportagem do jornal “asbeiras 08-04-2010”
O Ministério da Agricultura prometeu pagar as dívidas (referentes às medidas agro-ambientais) até 16 de Julho. Dizendo-se cansados de promessas por cumprir, durante os últimos anos, os agricultores do Baixo Mondego decidiram “dar um voto de confiança” ao ministro e à sua equipa. Aliás, a entrevista do ministro ao Jornal de Negócios tem servido para dar um novo alento aos agricultores.
“Nem sei como é que os agricultores aguentaram tanto tempo face aos pagamentos das medidas agro-ambientais. Dois anos de atraso é muito”, reconheceu o ministro. E se, a esses atrasos, os agricultores juntarem as ajudas directas perdidas desde 2005 (ver destaque), “é possível compreender a situação delicada a que chegou o sector”.
“Ainda há hoje agricultores que não receberam as medidas agro-ambientais de 2008 apesar do seu processo de candidatura cumprir todas as formalidades exigidas”, acusou Carlos Laranjeira, sublinhando que “o próprio ministro reconheceu que é intolerável que na era da informática não se façam os pagamentos a 30 dias”. “É nisso que os agricultores querem, agora, acreditar que António Serrano saberá dar a volta à pesada herança cheia de armadilhas”, reforçou.
E enquanto esperam que o ministério assuma as suas responsabilidades, os agricultores sentaram-se à mesa para analisar a situação e definirem algumas medidas que podem contribuir para “salvar” o sector. O grupo, constituído por 18 agricultores que liderou os movimentos de protesto às políticas de Jaime Silva, é representativo das diferentes zonas e culturas do Baixo Mondego.
Para além dos pagamentos em atraso, os agricultores discutiram a questão do preço da água. E estão de acordo quanto à recusa no seu pagamento referente aos anos de 2008, 2009 e 2010. “Os nossos parceiros comunitários só agora é que estão a discutir a questão e a nós exigem-nos o pagamento dos anos atrasados”, questiona Carlos Laranjeira. Os agricultores do Baixo Mondego decidiram criar uma comissão para estudar o problema e sustentar a decisão de não pagarem a água atrasada.
Mas os problemas não se ficam por aqui. Também o arroz continua na ordem do dia. “2010 tem que ser um ano de mudança para o arroz do Baixo Mondego para que possamos ter produto de altíssima qualidade no mercado e por preços justos. Estamos a trabalhar na alteração da legislação para definir bem o que é o carolino e o que não e evitar que apareçam misturas de fraca qualidade e fora da lei”, reforça Carlos Laranjeira. Lembrando que “Portugal tem o arroz mais barato produzido no mundo, incluindo no terceiro mundo onde as condições humanas e o ambiente não são respeitados”, Carlos Laranjeira lamenta as falcatruas que tornam isso viável num país – e numa região – onde se cumprem as exigências ambientais e se respeita o homem. E por que se fala de respeito, os agricultores recusam ver o Baixo Mondego ser tratado de maneira diferente de outras zonas do país, nomeadamente, do Alqueva.
“Até este momento, eles não pagam a água, têm contribuição financeira da EDIA e tudo leva a crer que é uma obra inviável se não tiver o apoio da produção de energia da barragem”, aponta, reconhecendo que “é aí que reside a revolta dos homens do Baixo Mondego”. “Nós temos uma barragem e dois açudes no Mondego que não contribuem e, que num passado recente nos deram um descontrolo total da água que destruiu obras e causou enormes prejuízos à população. Queremos todos os agricultores unidos mas não queremos ser os parentes pobres deste país”, afirmou, concluindo que “não há terras incultas e, mesmo com prejuízo, as ervas daninhas não suplantam as culturas”.
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